EPISÓDIO 4 - FÉRIAS NA PRAIA - CONCLUSÃO

 

Depois de encher o bucho com as rapadura do minino vendedor, desembarquei com a minha (cruz) família. A praia estava lotada. Nem sabia que existia tanta gente. Quando botei os pé na zareia e vi aquele mundão de água, fiquei sem ação nenhuma. Era tanta água que fiquei até pensando nos peixe que dava pra criar ali. Cará, fidaigo, piaba à fole. De tanto entusiasmo, faltou força nos braço e nos cambito. Deixei as coisa cair (pra cima) no chão. Felizmente veio um menino que se ofereceu pra carregar as coisa, o bixin tinha um boné estranho que só a bixiga: tinha uma aba reta que parecia uma tauba. E do zóculos, nem se fala. Era colorido que só. Resultado: o menino parecia uma mosca varejeira.

Ei bixin, deixe que eu carrego suas coisa, ó – disse ele.

O coitado só podia estar muito necessitado para oferecer sua ajuda. Certamente depois ele ia querer um trocado. Dei logo as tralha pra ele carregar. Para meu espanto, o bixiguento deu uma carreira danada com minhas coisa. E para completar minha surpresa, ele corria que nem o Usain Bolt. Mainha já tava ligada no movimento.

Pega ladrão! Pega ladrão!

Por causa desses grito de mainha, um deputado alagoano que estava na praia, logo deu uma carreira tão grande que nem poeira fazia. Depois do fuzuê, quando já tínhamos recuperado nossas coisas, fomos aproveitar a praia. Decidi logo tibungar no mar, mas mãe me aconselhou a ficar no raso. Dei umas quatro marguiada e saí. Mainha e painho tava armando a grelha pra mode assar as linguiça. O carro chefe da diversão do pobre na praia é a comida. Já falei sobre o maravilhoso e variadíssimo cardápio anteriormente.

Nessa hora, o Seu Madruga vendedor de churros passa.

Olha o chuuurros! Olha o chuuuurros!

Manhêêê, eu quelo chulos! Eu quelo, quelo, quelo! – disse Manuelson, meu irmão menor.

Deixa disso, minino! Daqui a pouco vamo merendar linguicia.

Naqueles meios, Manuelson, decidiu timbungar também. TXABUMMMM, e foi água pra todo lado. Depois de ter se banhado no mar (molhou só os cambito) Manuelson voltou. Trazia na mão um breguéço roliço e de cor marrom.

Olha mamãe, o blinquedo loliço que eu achei.

Eita menino réi poico da miséra! Larga isso que é um tolete!!

Ao fim desse incidente no mínimo nojento, fomos merendar. A linguiça tava no ponto e Bastiana me ajudou a catar os nervo. Então comemos nossa linguiça e eu dividi a minha com Bastiana (ai que delícia, cara). Nesse período, tinha um pessoal se gabando dos filhos.

Olha lá. Meu filho até aprece um golfinho, aguenta ficar embaixo d’água por uns cinco minutos.

Isso não é nada – disse o outro. – O meu fica por uns sete minutos, parece um tubarão.

Meu tio, de intrometido e já meio baleado por causa da cerveja se convidou para a conversa.

Pois a minha sogra deve ser uma tartaruga.

Oxente, mah. Porque? – perguntou um dos homens.

Por que faz mais de duas horas que ela tá embaixo d’água, olha lá – e apontou para a velha que estava boiando.

Valei-me meu frei Damião! Tonho, vai acudir mamãe! – gritou Chica do Pote.

Deixa comigo.

Meu tio, que já estava bêbado se danou no mar. Pobre quando vai na praia e entra no mar, quando não morre afogado, só vai fazer merda. Se você for estudar o complexo comportamento do pobre na praia, irá perceber que toda vez que o pobre fica bêbado, ele logo (pensa que) se transforma num surfista profissional quando não dá uma de Michael Phelps ou pensa que virou o Aquaman. Você pode ainda perceber o trabalho dos (fodendo) salva-vidas. Eles sempre estão tirando uns pobres chapados da água.

Outro tipo (filho-da-puta) de pobre bêbado na praia é aquele que acredita piamente que sabe surfar. Geralmente eles alugam umas prancha de surf de $10 por meia hora. Algo que é certo par todos eles, é o fato de irem tão longe no mar, que geralmente vão para na África e trazem algum souvenir de lá. O resultado de tal aventura é que são feitas muitas buscas de helicóptero pelo filho da puta, ou o mais certo é que já virou comida de tubarão.

Também não podemos esquecer do tipo que bebe e se enterra na areia, como se fosse rico com máscara de lama vulcânica. Por vezes, esse tipo de bêbado constrói castelos (escrotos) de areia junto com a molecada e destrói o dos outros achando tudo aquilo bastante divertido. Muito frequentemente, ele é confundido com um pedófilo e às vezes apanha do povão.

Por último, mas não menos importante, temos um PERIGOSÍSSIMO espécime de pobre bêbado. É aquele que vai pular das pedras na água. Na maioria das vezes, essa atividade emocionante acaba em tragédia, porque eles batem com a cabeça em pedras submersas. Esse tipo de pobre bêbado é o que tem menos adeptos. Bem, agora que explanei sobre os maravilhosos tipos de você pobre na praia, vamos ao que interessa.

Foi aquela arriação. Meu tio, que sequer sabia anadar, deu aquele “tchibum” na água coalhada de lixo e gente morta. Depois de nadar por uma meia hora, conseguiu agarrar a véia. No entanto, ao tentar trazer a coroa para a margem, meu tio acabou se atrapalhando e foi até mais longe da praia. Nisso, parece que ele foi arrastado por uma corrente forte. Eu só via o miserável se debatendo. Nessa hora, o povo até esqueceu a véia afogada, a qual já estava inchada igual um baiacu.

Ave marinha! – gritou Chica do Pote antes de desmaiar.

Por causa do fudunço a principio eu pensei que era tsunami. Mas todo mundo tava correndo pra o mar e eu não. Logo desconfiei. A situação estava tão preta, que nem parecia real. Minha mãe pensou que estava sonhando e meu pai pensou que estava bêbado (o que poderia ser verdade). A corrente marinha já ia levando meu tio a mais ou menos um quilometro da praia.

Vai timbora oferenda de Iemanjá! – gritou um gaiato.

Como nada mais poderia ser feito, o jeito foi deixar ele prá lá mesmo.

Na hora de ir embora, apesar de tristes comas nossas perdas, estávamos entusiasmados com nossa primeira visita a praia. Aí, já eram umas sete da noite. Mae pegou uma garrafa de água que estava vazia e foi encher com água do mar. Afinal, não se pode ir à praia sem levar nenhuma lembrança de lá. Mae já estava com medo de entrar no mar a essas horas, mas decidiu arriscar sua vida. Além do mais, mainha colocaria aquela garrafa d’água bem na estante, para ter uma prova diante dos vizinhos de que fomos à praia. Até esse dia, a praia era um local mágico e até mitológico capaz de ser alcançado apenas pela televisão.

Depois, pegou uma mucheia* de areia e colocou dentro do saco de biscoito. Agora poderia definitivamente provar que pisara em solo praiano. Para arrumar as coisas no carro demorou mais uma hora.

Depois disso, resolvemos cancelar as nossas férias em mundiça família.

Olhando pelo lado bom, o carro estava mais vazio. Dava até pra respirar. E o meu pai ganhou um carro. Fim. Ou não. Que se foda.


 


 


 

Glossário:

  1. Fidaigo e Piaba: tipos de peixe.

  2. Timbungar: Ação ou efeito de mergulhar.

  3. Mucheia: Punhado.